Numerosa é a família do ipê. A Dra. Lúcia Lohman é uma das autoridades mundiais em ipê. Professora de biologia da USP, a Universidade de São Paulo, já participou de várias expedições para estudar a árvore, que arrebata tantos admiradores. Até escala troncos a fim de coletar amostras.
“O ipê tem flores na cor branca, amarela, rosa, roxo, e temos inclusive o ipê verde, que tem uma flor esverdeada”, conta Lúcia.
O ipê faz parte das “bignoniaceae”, o grupo de plantas que tem a flor em forma de funil, uma cornetinha, como o jacarandá, a flor de São João, a cuia, parentes do ipê. Já até propuseram que o ipê seja a flor nacional, sendo que o pau-brasil é a árvore nacional. O projeto que trata do assunto se arrasta há décadas, em Brasília. O ipê já flor símbolo nacional em El Salvador, Equador, Venezuela e Paraguai. Ele tinge a paisagem do México até a Patagônia . Ao todo, são cem espécies esparramadas pelas Américas.
No litoral sul de São Paulo e Paraná cresce o ipê conhecido como pau de viola, de onde vem o som do fandango, um ritmo caiçara. A madeira é usada em lápis, um tamanco, uma colher de pau, brinquedos, feitos com a madeira largamente aproveitada em caixotaria, por isso conhecida também como caxeta.
Segundo Lúcia, entre a maioria dos ipês, predomina as flores em cacho chegando a formar uma graciosa bolinha. As flores externas se abrem primeiro. Depois, os botões de dentro, cada um a seu tempo. A guia de néctar tem umas estrias pavimentadas com pelinhos. É uma pista que orienta e facilita o pouso do inseto polinizador. Depois de polinizado, o cacho de flores vira um cacho de frutos. Vagens de variados formatos de tamanhos. “O objetivo das sementes é levar novos indivíduos à novas distâncias”, explica Lúcia.
A delicada e levíssima membrana, tipo papel de seda, envolve a semente, serve de asa. O ipê-mãe conta com o vento para semear seus filhotes. “O fato de o ipê sobreviver a condições de frio, seca e também o fato de o ipê apresentar raízes muito profundas, permitem que eles extraíam água mesmo em condições de seca extrema. Favorece que as espécies tenham ampla distribuição ocorrendo em biomas variados”, fala Lúcia.
A caxeta, o pau-viola, por exemplo, sobrevivem em áreas alagadiças. No município de Cananeia, o Globo Rural acompanhou o ribeirinho Reinaldo Oliveira, o primeiro e único proprietário rural, até o momento, que conseguiu aprovação de plano de manejo, no litoral sul de São Paulo.